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Urso polar em Copacabana
21 - A gótica e o narcisista
Ela sempre vinha com conversas maldosas
descrita em palavras fogosas,
era excessivamente direta e alucinógena,
tinha aparência discreta e libido andrógina;
às vezes soltava faíscas raivosas.
outras fazia que não me queria,
repentinamente sumia,
em certas ocasiões me dava de simpatia,
gostava de ser a vadia
que nunca foi,
era a gótica e pintava os lábios com sangue de boi;
nas suas dicas furadas eu nunca caía,
até que um dia,
disse algo excitante,
disse que meu livro leria,
que me achava interessante,
ela tocou meu narcisismo,
eu, numa dose de romantismo
dei-lhe uma poesia,
“O grande desafio?
Achar o certeiro elogio,
ela há de tentar de novo,
será que ele ainda se fará de bobo?
Que se console
a menina a dois anos dando mole
O homem mais difícil de ser conquistado
é aquele que não sabe ser notado;
parece ter medo de clitóris,
relegando os pormenores,
a verdade
é que ele é covarde,
a cada vez, nova desculpa
para não entrar na vida adulta
mas a idade chega até o mais serelepe infante
não podendo ignorar a sensação relevante
que despertou-lhe o apelido “interessante””
Ela mal responde,
com desdém a singelidade do poema ofusca,
eu e minha mania de por combustível de avião em fusca,
a grandeza do verso à inspiração corresponde,
foi o que lhe disse na réplica,
ela me bloqueou antes que vivêssemos uma tréplica
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1. 1 - Raízes
00:32||Season 1, Ep. 1Antes de tudo veio o verbo,antes de mim veio o amor,antes da sensação, a dor;problemas da vidaque fez a minha;no meu peito ainda te verei sozinha;o que mais me assombra,perder meu maior acalantochorar o meu pior prantover o seu sorriso virar sombrajamais desistirei de tinão importa o que passarnão importa o lugarserei o teu “aqui”já fomos parte do mesmo corpoestarei contigo até o último sopro
2. 2 - Epitáfio
00:15||Season 1, Ep. 2Onde o tempo é memória,onde do passado só resta a glória,onde a estória tem seu fim,é o lugar em que te perguntas,“o que vai ser de mim?”
3. 3 - Tempo que passa
00:33||Season 1, Ep. 3O tempo passa,dias se vãoe eu fico aquiséssil, inútil O tempo passa,meses se vãoe eu fico aqui,nada a fazer,desperdiçando o que depois me faltará O tempo passaanos se vãoe eu aqui,não vivendo o presente,vivendo um pré-futuro O tempo passamaldito, benditotemponão adianta exaltarnão adianta ofenderele passa,indiferente ao nosso querer
4. 4 - There was a bridge
00:29||Season 1, Ep. 4Over here there was a bridge,now there is just a riverand the water brings memories,the laugh, the jokes, the playing time, the fun,the happiness Over here there was a bridgewhere kids used to playHappy people, good friends,now they don't know each other anymore Over here there was a bridge,now there isn't anymore
5. 5 - Quando eu tiro o chapéu
00:31||Season 1, Ep. 5Eu tiro o chapéu,quando eu tiro o chapéuEu tiro o chapéu para as bonitas,para as feias,tiro os óculos Eu tiro o chapéu para as que me encantame as que encanto me tiram o chapéu Tiro o chapéu para os que passam,tiro para cumprimentarTiro o chapéu para os que se foram,tiro para aliviar o pesar Tiro o chapéu depois do trabalho,tiro o chapéu depois da praia,tiro para descansarTiro o chapéu para me deitar no balanço,tiro quando me canso,tiro para não ter que tirar
6. 6 - Eu canto
00:40||Season 1, Ep. 6Eu canto, porque acho bonito o meu cantoCanto com plateia ou a sós,Canto que é para fazer durar o encantoda minha voz,que não para mais de cantarE por isso, eu canto o meu pranto,que é para não chorar Pois quando canto,não sei se todos os meus males espanto,se os consigo afastarMas parece que quando canto,vem me salvar um santo,é sensação de bem-estar Canto,porque é de cantoque eu vou chegarAonde? Eu não seiAo seu coração?Ao infinito do céu?Ou ao azul do mar?Canto porque a vida é cruel,mas não me nego boa emoçãoCanto uma estória que eu inventeiCanto para minha vida não ter que contar
7. 7 - Intercedido
00:40||Season 1, Ep. 7Pelo respiro duma brisa de outono,fui a janela para reavivar a mente;vi os pardais e as rolas a ciscar no chão,o vento a abalar as palmeiras;por alguns segundos pensei no vazio da vidae depois dediquei-me a recordar a nostalgia doutras tardes já passadas,compreendi que ando a contar os dias,refleti sobre minha incapacidade de administrar o tempo O vento é como o cronos,leva o que pode carregaraos confins da percepção ocular;o passado, o futuro,são dois horizontes que me têm intercedidoe ora me parecem tão longínquos...
8. 8 - Ultrassom testicular
00:22||Season 1, Ep. 8Quando com um rolofez-se o sinal da cruz na origem dos homens,ao som dum doce axé fervoroso,descobriu-se as esbregosas curvas da civilização;o incômodo tem insólito respiroe o fim carece de elogio,a nossa despedida é mera congratulação
9. 9 - A cientista
00:28||Season 1, Ep. 9Cientista,nas horas vagas, artista,e nem é preciso dizer, feminista;luta contra sua figura inocente,pois se deseja vez mais independente;a coisa fica insolventese ele dá de hábitos antigos,se tem alergia dos seus amigos;assim descasca a tintura,cai a moldura,é o fim da novela,na sua vida, uma nova tela