Uma gota na chuva. Uma flor no jardim

António Graça conhece as suas rugas e humores, a maneira como crescem as plantas, a data em que caem as folhas ou chegam as aves migratórias. É uma paixão.Sabia que é no Jardim Gulbenkian que estão os primeiros eucaliptos que chegaram a Portugal? Muitas outras coisas que poderá aprender com António Graça, o responsável pela equipa de jardinagem, que conhece cada recanto, cada planta, que por onde quer que passe sabe, pelo canto, no meio da folhagem, qual é o pássaro que o acompanha.

Quando Vasco Wellenkamp começou a dançar no que que viria a ser o Ballet Gulbenkian, as árvores do Jardim ainda não existiam. Das suas memórias desfiadas ao som do piano de Joana Gama, sobressaem as vivências enquanto bailarino e coreógrafo da companhia onde esteve durante 29 anos, mas também a sua paixão por este Jardim que tem “todos os tons de verde que existem na Natureza”.  

É o imaginário e o mistério do que há de vir que Tónan Quito traz para esta conversa sobre o Jardim. Fascinado com o momento inicial, aquele onde tudo foi possível, o ator e encenador percorre o Jardim como se fosse um labirinto, deleitando-se com cada nicho e com o espanto causado pela descoberta de um lugar sempre novo. E, de quando em quando, parece vislumbrar dois apaixonados aqui, um duende ou uma fada ali, tal como em Sonho de uma noite de Verão.

Olha para o Jardim como uma paleta auditiva onde a alma quase se pode renovar. Pedro Carneiro, percussionista e maestro, já cá burilou muitas ideias, escrevinhou muitas notas, trocou muitos olhares... Chegou a trazer o Alasca até este pedaço de terra no centro de Lisboa, num concerto onde até os pássaros tinham o seu espaço na partitura. Este pedaço de terra, que tem a sua própria banda sonora.

Conhecer plantas e árvores pelo nome é apenas uma parte do seu interesse pela botânica - uma paixão que permanece, apesar de ter escolhido economia em lugar de agronomia. O antigo ministro e gestor Bagão Félix fala da “permanente busca da curiosidade” que todos os dias o entusiasma a descobrir e a estudar cada planta na Natureza. Como no Jardim Gulbenkian, entre as magnólias grandiflora ou tantas outras árvores que conhece de cor.

Foi-se incorporando ao longo de vinte anos. A coreografa Olga Roriz namorou no Jardim. E estudou, pesquisou, fez ensaios – “experimentou quedas” de bailado na relva. E fez espetáculos. Passeou com a filha. Traz amigos a conhecê-lo e no Jardim descansa, por vezes. A coreografa e antiga bailarina do Ballet Gulbenkian guarda do Jardim para si, em duas palavras: beleza e paz.

O lado sagrado da natureza na cidade é o ponto de partida para dois músicos, ambos de nome Filipe, evocarem a sua relação com o Jardim Gulbenkian. O pianista e compositor Filipe Raposo sublinha a vista de jardim através da grande janela do Grande Auditório, enquanto Filipe Faria, antigo membro do Coro Gulbenkian, conta memórias de infância e canta uma bela e ancestral composição popular.

No mês em que Gonçalo Ribeiro Telles faria 100 anos, o arquiteto paisagista Francisco Caldeira Cabral recorda as ideias e as histórias que estiveram na origem e na construção do Jardim Gulbenkian. Um passeio pelo passado e um vislumbre do que será o futuro Jardim, acompanhado ao piano por Joana Gama.

Além de dar a ouvir o som do seu piano em simbiose com o Jardim Gulbenkian, Joana Gama leva-nos numa viagem que passa pelas recordações do seu recital de 14 horas, muito perto do jardim japonês, até aos concertos no Anfiteatro ao ar livre ou aos piqueniques com amigos. São vinte anos de paixão pela música e inspiração na natureza para ouvir neste podcast.